Primeiro a gente ama, depois a gente vê...
Texto por Paola Martins
Amar é um verbo de coragem. Não é para os fracos de coração. Ele acontece da pele pra dentro, e, só depois disso é que transcende para o mundo a nossa volta.
O extremo oposto de "amor" não é o ódio, e talvez nem mesmo a indiferença, mas sim o apego.
O apego, a possessividade, e a manifestação através do ciúmes, num nível físico denso, como uma das mais corrosivas conspurcações que podemos permitir que nos habite, mais tóxica e mais inebriante do que muitas drogas, consiste tão e somente na projeção do nosso ego sobre o outro.
O desejo de controle toma conta, habita todas as frestas, e toda a interpretação da realidade feita a partir daí é deturpada, equivocada.
Por isso, amar de verdade, de peito e mente aberta, exige que nos desfaçamos destes nós, e outorguemos a verdadeira liberdade para sermos e sentirmos. Liberdade para nós e liberdade para o outro.
Ninguém permanece em lugar algum sem que haja desejo de estar, integralmente ali.
Caso contrário, fica-se de corpo, mas parte-se de alma, pois que ficam mesmo desejando partir, internamente ou externamente, estão ancorados, escravizados.
O amor é compartilhar, não aprisionar e muito menos tiranizar.
Mas, ainda assim, as maiores vítimas, diariamente, das nossas vilanias são justamente aqueles que dizemos mais amar.
O amor, romântico, trágico, fraternal, devocional, moderno, antigo, erótico, intelectual ou qual seja, consiste, primordialmente em partilhar, dividir, momentos, risadas, beijos, abraços, lágrimas, sonhos, ideias, lugares, sabores, viagens, travesseiros, caminhadas, espaços, tudo e mais um pouco, sabendo que tudo, a todo instante, é passageiro e está se acabando.
A transitoriedade e o amor são o que fazem a vida inesquecível.
Onde não há amor, a memória, mais dia menos dia, condena ao esquecimento.
Só recordamos bem aquilo o que guardamos com o coração. E quem conhece o amor, já o provou e o sentiu em todo os poros, sabe que o paladar não retrocede: quem permite amor, chama amor, atrai amor, e sempre experiencia amor. Nada multiplica de forma mais exponencial no mundo o que amar.
O primeiro passo é ter coragem: deixar-se sentir pode ser verdadeiramente desafiador. Muitas vezes, é contraintuitivo. Quantas vezes fomos estimulados a acreditar que blindar-se de determinadas emoções é o que nos faz verdadeiramente fortes.
Será mesmo?
Desde que o mundo é mundo, o amor transforma, cria, molda, evoca, desperta, provoca. É causa de batalhas e guerras, mas também da mais bela arte, músicas, esculturas, poesias, literatura: Tudo o que já existiu de mais potente na história foi movido por amor.
E o amor é movido por coragem.
E a coragem só pode partir do coração.