Sem energia não há transformação
Texto por Paula Lucchese Cordeiro

Uma das regras gerais de execução do SwáSthya Yôga, que constituem o alicerce da autossuficiência (tradução de SwáSthya), estabelece:
“Esforce-se sem forçar. Qualquer desconforto, dor, aceleração cardíaca ou transpiração em excesso são avisos do nosso organismo para que sejamos mais moderados. A verdadeira prática não deve esgotar, mas recarregar nossas baterias.”
A profunda sabedoria dessa filosofia milenar nunca cessa de me surpreender. O Professor DeRose diz que “nossa garantia de fábrica é de 5 mil anos”!!
Mesmo sabendo disso e sendo uma praticante comprometida há algum tempo, essa é a regra que eu tenho a maior dificuldade de aprender, e não só no EVA: na vida!
Sou dessas que estica a corda, que aceita com prazer um desafio de resistência, que sempre acha dá! Otimismo ou teimosia: quem sabe? O fato é que às vezes, simplesmente não dá. Passo do ponto e chego à exaustão.
Sei que isto não é privilégio meu. Vivemos em um mundo de excessos. Excesso de estímulos, de dispersões, de desafios, de necessidades impostas pela própria vida e pela sobrevivência, especialmente em um mundo pós-pandêmico, no qual os limites entre a vida doméstica e profissional se tornaram quase que inexistentes com o advento (e aparente permanência) do home office. Estamos cansados.
Isso é o que mostra o crescente número de casos de burnout, palavra usada globalmente hoje para descrever um resultado cada vez mais comum deste estilo de vida insustentável que criamos para nós.
Claro que existem situações em que a exaustão vem por falta de disciplina, uma má administração de tempo ou uma entrega displicente às várias dispersões tão comuns da vida moderna, mas nem sempre esse é o caso.
Muitas vezes estamos buscando ser a nossa melhor versão, e nessa ânsia, nos tornamos suscetíveis a ignorar os sinais que o nosso corpo, esse veículo espetacular que sobrevive nesse planeta há milhares de séculos, nos oferece, enviando indícios claros (e eventualmente não muito gentis), de que é hora de parar, de retirar-se da velocidade da vida por alguns instantes...
Em um mês em que tratamos de autodisciplina e persistência, cabe esta reflexão não como um contraponto, mas como um reforço: ouvir e respeitar o próprio corpo é um ato profundo de disciplina, foco e autoconhecimento.
Há momentos em que a mais verdadeira manifestação de persistência é priorizar um tempo de descanso, introspecção e recuperação, e ao invés de considerar a parada uma perda de tempo, convido você a vê-la como um investimento estratégico (e uma recomendação de 5 mil anos) em nossa capacidade futura de realização. Sem energia não há transformação.
Amei! 😍