Uma revolução científica ou comportamental?
Por Carol Gassen
Esta forma de enxergar o ser humano existe há mais de 4.000 anos antes de Cristo. O Oriente, China, Japão, Índia, sempre distribuíram a mente pelo corpo em um sutil mapa, até hoje considerado metafórico pela medicina científica. Porém, também no Ocidente a partir desta mesma época, a medicina se vinculava à filosofia, desde o Antigo Egito, Grécia, Hipócrates, Aristóteles, Galeno, tendo como base uma prática integral que une o homem ao seu contexto, ao seu entorno, ambiente e estilo de vida e distribui a consciência no organismo, onde qualquer pensamento deixa seu pouso nos órgãos corporais.
Quando então no século XVII, Rene Descartes, filósofo, matemático e físico, com a revolução científica, participa do fim da medicina humanista e dá início de uma visão mecanicista e dual do corpo humano, a grande separação da mente e corpo. São distintos, mas não separáveis: “O erro de Descartes”. A partir daí iniciam-se as especializações associadas às tecnologias e à globalização.
2010: primeiras evidências da neurociência na tentativa de unir novamente corpo e mente. Hoje, 2024, esta união já está solidamente reconhecida: a influência do organismo sobre o cérebro e vice-versa. Porém, as revoluções científicas não se alimentam do acúmulo de evidências e sim das circunstâncias que as favorecem.
Não penso somente como profissionais, de qualquer área, mas como seres humanos que somos, dependentes de interação, socialização e conexão com o outro. Talvez esta dificuldade de um retorno à biologia humanista esteja na nossa própria dificuldade em nos humanizarmos. Não basta manipularmos milhões de dados. Traduzir a informação em conhecimento requer humanidade e humanismo. “Tentar codificar o que é o ser humano sem SER humano é um salto no vazio”, como diria Nazareth Castellanos.
Para olhar com amabilidade, compaixão, humanidade, empatia, integralidade a aqueles que cuidamos, seja como profissionais ou não, é preciso antes olharmos da mesma forma para nós mesmos, para nossas próprias sombras. Não estaria aí nossa dificuldade?
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