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Ambiguidade

Texto por Paola Martins


Nenhuma jornada é uma linha reta, muito menos se basta em ser preto no branco.


As curvas que se revelam ao longo no caminho podem causar mau estar. A resposta, na maioria das vezes, não se dará simplesmente fugindo do desconforto.


Na infância, o doce é apenas doce e o amargo é apenas amargo.


Conforme a adultez vai se desvelando diante de nossos olhos, o doce pode enjoar e o amargo pode mostrar um novo sabor inteiramente ainda não descoberto.


Estar vivo é o tempo inteiro agridoce.


Esta é a realidade posta: O mesmo acontecimento que fecha portas, abre janelas. No mesmo dia que nos debulhamos em lágrimas, vai existir alguma coisa, pelo menos uma coisa, que nos fará sorrir.


A vida é rio um inteiro, desaguando sobre nós, de novo e de novo e de novo - todos os dias.


Ou nos entregamos ao fluxo, ou engolimos tanta, mas tanta água, que a sensação será sempre de quase morte por afogamento.


Mas deixar fluir, acompanhar a correnteza, mesmo quando este ato pareça pouco natural (e talvez assim o seja) nos conduz ao prazer quase que indescritível de se permitir regozijar com a ambiguidade.


Fazer as pazes com se sentir, ao mesmo tempo, feliz e triste. Experienciar, no mesmo instante, pressa e preguiça. Aceitar, num mesmo evento, raiva e motivação, frustração e contentamento.


A enxurrada da vida não para nem diminui seu fluxo só para que possamos entender o que está acontecendo.


O trem bala não diminui sua velocidade para amenizar nosso enjoo.


Só nos resta aprender a assimilar ao longo do processo, sem precisar esperar nenhuma pausa: só existe recreio na escola. No mundo lá fora, o jogo não para e bola roda incessantemente.


Desista de esperar intervalos. Quando precisar de um respiro, busque em si mesmo. Lá fora, é sobre tudo, o tempo inteiro, em todos os lugares.


A ambiguidade estará por todos os lados, e há uma certa simetria poética neste fato, pois torna tudo, simultaneamente, muito complexo e absolutamente simples.


Nada se basta em uma única dimensão.


Abrace suas próprias ambiguidades, sem julgamentos. Se você não conseguir comprometer-se consigo mesmo, na sua integralidade, ainda que ambígua, como poderá se relacionar com o mundo, sem ser através de interações ilusórias?


A realidade é - e sempre será - incerta.



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