top of page

Vai com medo mesmo

Texto por Paola Martins



Todas as nossas experiências ficam gravadas na nossa pele. Nosso corpo nos conta uma história de todos os sentimentos que nos permitimos sentir desde a primeira inspiração.


Cada alegria, cada tristeza.


Tudo deixa uma marca, mais ou menos profunda.


Ao longo da nossa existência, conviveremos com centenas de grilhões diferentes: Ideias, hábito, condicionamentos, ambientes, pessoas, emoções, faltas, distâncias...


Se tivermos sorte, ao longo da jornada, depreender-nos-emos de alguns deles, deixando-os pelo caminho.


Mas é preciso dizer que mesmo a sorte pode ser fabricada a partir de uma ideia fixa.


Tudo está mais perto e vem mais fácil para aqueles que almejam com intensidade, que desejam com fervor.


E, mesmo neste caso, ainda pode ser que o desejo reste distante.


Por isto, é preciso estar atento: ao menor sinal de medo de avançar, não olhe pra trás, vai com medo mesmo.


Esse medo congelante fica às vezes represado nos mais profundos níveis da nossa musculatura, nos intoxicando aos pouquinhos, dose a dose, impedindo nossos voos.


Ter medo, receio, ressalvas, é uma resposta natural do nosso corpo mais primitivo, que tende busca proteger nossa sobrevivência a todo o custo.


Só que, se você chegou até aqui, sobreviver já não lhe é o bastante, o natural, o instintivo, já não é o suficiente.


É preciso viver com cada vírgula de intensidade, com cada gota de suor, com cada ruga de sorriso, com cada lágrima, com tudo, o tempo inteiro: nunca menos do que o pacote sensorial completo daquilo o que pulsa dentro de cada um de nós.


A experiência pode ser apavorante, mas é também insubstituível.


Não existe evolução (nem revolução) que aconteça do sofá de casa.


Vá. Vai logo. Só vai, com medo e tudo, de peito aperto, se joga!


Depois de expandir o anáhata, não há retrocesso: é impossível voltar ao lugar estreito.


Principalmente: não tenha medo de ser você, ainda que encontre muitas cobras e lagartos no meio do trajeto.


A lapidação, através de qualquer processo de autoconhecimento, nunca é apenas bela. É dura, exige esforço, exige coragem, exige brio e antifragilidade.


A pressão é gigantesca para revelar-se o diamante.


Mas ele já está aí, ainda que soterrado pelas suas camadas de medo, das quais, a partir de agora, sei que você irá se despir: esta talvez seja a única nudez de verdade.

Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
bottom of page