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A (mal compreendida) prática da gratidão

"Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter."

Gustave Flaubert

A gratidão está desaparecendo de nossos costumes. Esta virtude está se extinguindo. Fomos, há algum tempo, invadidos por uma crise de descontentamento endêmico que gera e faz aumentar o número de reclamações. Reclamamos do clima, da política, do cônjuge, do chefe, dos subordinados, da polícia, do trânsito, da jornada de trabalho, da crise, etc. O que está acontecendo? Será que a insatisfação é genética? De onde vem este ímpeto desenfreado de estarmos sempre descontentes com algo ou alguém? Quanto a esta pergunta sinto em responder que não há nenhum culpado a apontar a não ser nós mesmos.


Nós somos os motoristas que tornam o nosso trânsito cada vez mais violento; somos também os pedestres deseducados atravessam fora da faixa de segurança. Nós elegemos os políticos que nos representam nas esferas municipal, estadual e federal, os quais, suas atitudes nos desagradam. Nós escolhemos com quem nos relacionamos, com quem casamos, etc.; optamos por uma profissão, emprego ou ofício. Organizamos nossos horários e atividades. Então cabe exclusivamente a nós, a responsabilidade de fazer diferente; de cumprir o dever com alegria e de constantemente adaptarmo-nos a novas situações com sabedoria e flexibilidade.


Felizmente bons valores não morrem, apenas ficam adormecidos. E para nossa sorte, retornam através de movimentos sociais e bons exemplos de homens e mulheres que estão mais preocupados em construir do que destruir, dispostos a colaborar ao invés de criticar, mais empenhados em descobrir o que há de bom neste mundo do que cruzar os braços e permitir que nosso lado mais obscuro prevaleça.


A gratidão, parte fundamental da ética oriental, não é apenas um sentimento, e sim uma prática diária de ações efetivas, contidas nas pequenas e grandes coisas do dia a dia. Aqueles que conseguem ser gratos e contentes diariamente mudam os paradigmas mentais e emocionais passando a encarar a vida de uma forma diferente. Saem de uma condição reativa para uma mais pró-ativa.


A gratidão deve deixar de ser uma retribuição a algo que nos foi feito para se tornar uma atitude que permeia nossa vida a cada instante. Já nos ensinou Machado de Assis que "a gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazer daquele de quem o faz". Wallace Wahles alertou: "a prática diária da gratidão é um dos canais pelos quais a riqueza chegará a você". Seja grato ao final de cada dia, pelas metas alcançadas, agradeça ao caixa do supermercado, dê bom dia ao porteiro do seu prédio, pergunte ao chefe como foi final de semana. Valorize mais os professores mesmo antes de receber o conhecimento, torne-se grato aos pais pela vida, grato aos amigos por tornarem a existência mais divertida e agradável.


A gratidão faz com que olhemos ao nosso redor com mais clareza, com mais profundidade e percebamos que temos todas as ferramentas para sermos felizes. Experimente exercitar a gratidão todos os dias, você vai se surpreender com o resultado.

"Todo o nosso descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa falta de gratidão por aquilo que temos." Daniel Defoe

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